Capa do livro Le paysage envisagé/Art et cartes postales de Robert Ireland e Marie-Pierre Zufferey recentemente editado pela Infolio , na coleccção Archigraphy Paysages
"Un bonjour d'Afrique où je suis en train de faire un safari photographique. C'est une expèrience unique... Je fais des centaines de photos..." Este verso de postal que Zufferey (2009) transcreve na sua breve divagação sobre cerca de meia centena de paisagens de postais que lhe foram enviadas ao longo dos anos lembra-nos o postal de 'vistas' contemporâneo, o postal de paisagem na era da revolucionária da fotografia digital. De facto, porque é que ainda se escreve nessa moldura móvel que é o postal quando se pode 'agarrar' a paisagem mais de cem vezes com uma minúscula objectiva fotográfica e enviá-la quase em simultâneo a partir do PC portátil ou do discreto telemóvel? Zufferey (2009) não convoca esta problemática no seu texto publicado muito recentemente pelas Éditions Infolio (Suiça) mas liga o postal a esse "tempo imóvel" dos "pôres do sol" e do "céu azul das férias", em que pouco ou nada muda senão "o nosso ponto de vista, o nosso estado de alma".
Se a ideia de paisagem é ela própria uma ideia bem datada na história das imagens (que chegaria com o romantismo alemão, por volta do séc. XVIII), o postal nas suas infinitas variações não parou de a reproduzir e de a atravessar desde o séc. XIX. Imagem pobre e eficaz instrumento das indústrias de turismo, o postal também esquadrinha a paisagem em cantinhos de beleza universal e "jardins de atmosfera protegida". Insistem os especialistas que o primeiro postal ilustrado com paisagens foi comercializado em 1891 por Dominique Piazza, com as vistas da cidade francesa de Marseille. Miniatura de paisagem, o postal foi herdeiro dessas modestas pinturas de vedute que os turistas do séc. XVIII traziam consigo de Itália como souvenir da sua viagem. Hoje, entre GPS's e Google Earth's, o postal paisagístico continua a ser visto, escrito, lido, trocado e permanentemente reinventado: ora a preto e branco e a sépia, ora cheio de slogans e fogos de artíficio, ora com a simplicidade de um recorte de paisagem a cores, ora misturando o preto e branco e as cores, ora juntando vistas múltiplas... Como podemos ler na introdução ao livro pela editora, o postal é neste ligeiro texto de Zufferey um pretexto para abordar a paisagem na sua relação com o imaginário popular.
No comments:
Post a Comment