Friday, October 16, 2009

O verso do postal: arte, decoração, publicidade, design - Postcard's verso: arts, decoration, advertising, design

 (left to right) I got up, 1970, by On Kawara (mailart work); 'Verso' of a Lima's postcard (Peru) with stains of glue; ' Verso' of a 'freecard' advertising the opera La ville morte by Erich Wolfgang Korngold in Opera Bastille in Paris (France), October 2009; 'Recto' of a postcard published by Publicards reproducing  an empty postcard back, 2001;

A fórmula é arriscada mas quase poderíamos usá-la: o postal está morto, viva o postal! Diferentes autores (Ripert & Frere, 1983; Malaurie, 2003; Hossard, 2005) defendem que o postal atravessa hoje a sua segunda idade de ouro. No entanto, esta ideia de uma renovação do postal refere-se sobretudo à edição de postais, ao coleccionismo, ao interesse das avant-gardes por este meio de comunicação, assim como à sua utilização enquanto instrumento publicitário ao serviço das indústrias culturais, sob a forma do ‘freecard’. Quanto à sua função de objecto de correspondência e de meio de comunicação interpessoal, esta encontra-se actualmente largamente ‘empobrecida’ a favor da contemporânea panóplia de tecnologias comunicantes que vão do e-mail, às sms’s, aos chats...

O mosaico de postais aqui reproduzido mostra algumas das apropriações e recriações que o postal tem vindo a suscitar à medida que a sua dimensão de objecto de correspondência enfraquece. Numa obra de mailart  como I got up de On Kawara, obra em que o artista envia uma série de postais aos amigos registando a hora a que acordou todos os dias, há uma reutilização do postal (uma fotografia com um verso datado, assinado, carimbado, endereçado) no sentido de dar forma a questões que ocupam Kawara, como a relação da temporalidade com a imagem. O verso com marcas de cola, adquirido numa feira da ladra em Paris em Maio de 2009, é um exemplo de postal que foi utilizado como simples reprodução e objecto decorativo em detrimento do seu uso na correspondência. O postal editado pela Descartes Media publicitando a ópera La ville morte de Erich Wolfgang Korngold, é um entre os muitos freecards que já não reservam espaço para correspondência: a margem esquerda do postal, normalmente destinada à mensagem do remetente, é invadida pela sinopse da ópera e a sua ficha técnica. Finalmente, o postal que reproduz no seu recto o verso em branco de um postal é uma criação da Publicards: nele podemos notar até que ponto é que o verso do postal, cada vez menos utilizado, se tornou ele próprio, para os seus designers e para os seus consumidores, uma imagem, essa espécie de “forma pura” que George Simmel (La tragédie de la Culture) atribuía aos objectos que já tinham perdido a sua utilidade real mas que nos continuavam a suscitar prazer.

The formula is risky, but we could almost use it: The postcard is dead, long live the postcard! Different authors ((Ripert & Frere, 1983; Malaurie, 2003; Hossard, 2005) claim that nowadays we’ve been assisting to a postcard second golden age. Although, this idea of a postcard renewal concerns mainly postcards edition, collection, avantgardes new interest for this means of communication, as well as its use as an advertising tool serving cultural industries in the form of ‘freecards’. Regarding postcards as correspondence objects and interpersonal means of communication, these functions are nowadays impoverished in favour of the contemporaneous panoply of communicative technologies (e-mail, sms’s, chats…).

The postcards mosaic here reproduced shows some of the appropriations and recreations that postcards have been inspiring as far as their correspondence dimension has been weakening. In a a mailart work such as I got up by On Kawara, in which the Japonese artist has sent a series of postcards to his friends stating the time he had woke up each day, there is a re-use of the postcard  (a photography and a dated, sent, addressed and stamped verso …) in order to give shape to On kawara’s main questions, such as the relationship between temporality and image. The postcard’s back with glue marks, bought in a flee market in Paris in May 2009, is an example of a postcard which was used as a mere reproduction and as a decorative artefact rather than as a correspondence object. The postcard published by Descartes Media promoting the opera La ville morte by Erich Wolfgang Korngold, whose ‘verso’ is here presented, is one among many freecards that don’t keep a space to the correspondence any more: the left side normally dedicated to the sender’s message is invaded by the opera general information and synopsis. Finally, the postcard that reproduces in its front the empty back of a postcard is a creation of Publicards: in this postcard we can realise how postcards ‘verso’, less and less used, has become, for their designers and consumers, an image; we can notice how postcards ‘verso’ has become this kind of “pure form” that Georges Simmel (La tragédie de la culture) recognized in the objects that had already lost their real utility but that kept pleasing us.  

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