Monday, June 29, 2015

Concurso de postais sonoros

O audioblogue Arte Radio lançou um concurso de criação sonora, que convida à criação de 'postais' de som, "como uma pequena amostra da vossa vida, da nossa época, da estação", dizem. Estes 'postais' deverão ter 4 minutos, no máximo, e ser alusivos ao tema "Verão 2015".
Em tempos, o projeto Arte Radio já teve postais destes online. Eis a versatilidade do postal... ou o lado visual do som!



The Art Radio audioblog has just launched a competition of sound creation, which invites people to create sound postcards, "as a small sample of your life, of our epoque, of the season", they say. These postcards should be no longer than 4 minutes and regard the theme "Summer 2015". 
In the past, the project Arte Radio has already had these kinds of postcards online. Here it is the postcard's versatility... or the visual side of the sound!

Sunday, April 12, 2015

Kawara’s Postcards no Guggenheim (NY)

When was the last time you sent a postcard?

Questiona-se Caitlin Dover, no Daily Mail, a propósito de “I got up”, uma das doze secções de ON KAWARA – SILENCE (Feb 6 – May 3, 2015, GuGG, NY), a derradeira e, talvez, a mais extensa exposição de On Kawara (1932-2014), proeminente membro da avant-garde artística japonesa, da Tokyo do pós-guerra, que morreu em dia impreciso no ano passado em Nova York a poucos meses desta ser inaugurada. A secção que nos reteve a atenção é constituída por uma vitrine e 16 painéis (rampe three) exibindo mais de 1 500 postais ilustrados, em dupla face, dos cerca de 8 000!, que o artista expediu sistematicamente ao longo de 11 anos, entre 1968 e 1979, aos seus amigos e conhecidos, entre os quais se encontravam alguns dos mais referenciados artistas da década de 1970, tais como Kasper König, Sol LeWitt, Lucy Lippard, e outros.


Kawara optou por usar o espaço do verso do postal ilustrado destinado à mensagem para carimbar a invariável, quão intrigante, mensagem: levantei-me às”, indicando rigorosamente a hora a que o fazia, geralmente por volta das 10:00 e as 11:00 A.M. Tendo somente terminado o projecto apenas quando perdeu o carimbo de borracha com que apunha suas mensagens.
Mais do que uma expressiva série tão recorrente do conceptualismo artístico da época, onde poderemos situar a sua obra, os cerca de oito milhares de postais ilustrados chancelados à alvorada de Kawara têm um alcance bem mais vasto, porque traduzem uma filosofia de vida. Diríamos mesmo, para além do sentido da arte, do abstraccionismo sistemático do método e da disciplina férrea que esta comporta, a produção/expedição diária de postais ilustrados, que chegou a compreender, ao longo de anos, o envio de dois espécimes no mesmo dia, é um desafio à nossa imaginação, ao próprio conceito de objecto artístico. As demais secções da presente exposição assim o confirmam. Além dos cartões postais (I Got Up, 1968-79), veja-se, o exemplo: das Date paintings, (Today, 1966-2013) uma elegia à referenciação cronológica a partir da inscrição de uma data (a branco) sobre um fundo de tela monocromático (vermelho, azul, ou cinzento); mas sobretudo, making maps (I Went, 1968-79), o mapeamento através de uma linha vermelha em plantas vulgares fotocopiadas (24 vol’s), dos múltiplos itinerários urbanos que percorreu pelo mundo, com coordenadas, dando conta precisa do lugar, do tempo e das relações pessoais que travou; mas também, o catálogo diário dactilografado (I Met, 1968-79), organizado em volumes encadernados registando as pessoas com quem se encontrava diariamente; ou mesmo, as compilações exaustivas, dir-se-ia, algo obsessivas (One Million Years, 1970-98) em que dois artistas deveriam proceder à leitura de um livro de 20 volumes, a anunciar as datas que permeiam os anos de 998.031 AC e 1.001.995. Mas também, a partir da colecção de outros suportes corriqueiros, como: álbuns de recortes de jornais (I Read, 1966-95); calendários (One Hundred Years, 1970-98); ou os cerca de 1000 telegramas que enviou entre 1969 e 2000 aos amigos, artistas e coleccionadores de arte, começando por anunciar, I am not going to commit suicide don’t worry”, tendo prontamente moderado para “I am still alive”… e outros modos ainda, de expressão comunicativa minimal repetitiva, que se impõem pela sua cadência, método, e persistência. Estamos certos, num processo que é ele próprio de pulverização do tempo.
Aliás, Kawara, de cuja vida pessoal se conhece muito pouco, deu-nos testemunho dessa reconceptualização do tempo, quando por sua iniciativa resolveu contabilizar a idade em dias, facto que levou D. Zwirner (2015) a estimar a vida do artista em 29 771 dias. De facto, ainda que o seu amigo, o artista Lawrence Weiner, atestasse que Kawara “era apenas uma pessoa normal”, a prática de trabalho uniforme, obsessiva e inalterável ao longo de cerca de quatro décadas, e de que a série “I Got Up” é prova evidente, deixa-nos essa inquietação perturbante sobre o modo como concebemos e usamos o tempo. Metáfora perfeita, como o próprio concebeu, para instalar nas rampas em espiral do Solomon R. Guggenheim Museum, de New-York, obra-prima projectada  Frank Lloyd Wright.



Daqui poderemos extrair duas considerações fundamentais. Por um lado, a definição de um conjunto de protocolos e regras auto-impostas, que nos dão conta da descrição, detalhada ao pormenor, da vida pessoal do artista, desde que este se levantava até ao deitar. O tempo, o espaço e todos aqueles com quem interagia. Ainda e contudo, a visão egocêntrica do artista feita acto comunicativo que, como convergem D. Buren e D. Duray (2015), pressagia o mundo actual dos mídia sociais, onde as pessoas documentam continuadamente os pormenores da sua vida diária, independentemente da sua banalidade, como numa página do Facebook, a maneira como passam os dias, os lugares onde vão, e as pessoas que encontram, para deixar um rasto de metadados diário da sua [nossa] existência. E que acrescentaríamos, tal como Kawara enviava postais ilustrados aos amigos a anunciar a hora e o local onde se levantava, porventura também nós, hoje, utilizaremos, não muito diferentemente, as redes sociais electrónicas para registar a nossa pegada digital quotidiana.
Por outro lado, o trabalho de On Kawara convoca-nos para a questão do objecto artístico na era da sua reprodutibilidade técnica, desde logo através de um dos seus lídimos sucedâneos, a fotografia convertida em postal ilustrado, que o artista explora hiperbolicamente até à exaustão. Isto é, o conceito estético da repetição levado até ao paroxismo. Aqui mais do que uso material do postal ilustrado como um suporte, ou fim em si mesmo, o sentido da própria arte consubstancia-se, sobretudo, no acto de envio postal e na cumplicidade dos destinatários que com ele interagiam. Perspectiva que nos permite invocar W. Benjamim (1936) perante a desvinculação da “aura” do objecto artístico, da sua condição de peça única e singular. On Kawara, com o seu labor disciplinado e preciso, ao qual, estamos em crer, não será também estranha a sua sensibilidade oriental de origem, estabelece um modo de trabalho interpelador. Embora assente em suportes banais de representação do espaço e do tempo, apresentados sob uma conjugada vastidão oceânica, como certamente reconheceria W. Benjamim, a obra resgata os valores tão caros à essência canónica do objecto artístico. Tal como ocorreu com a Pop Art, a partir do reordenamento dos objectos, sobretudo, pelo impacte plástico da imagem do seu conjunto, a obra adquire uma nova unicidade, torna-se singular pelo método e, finalmente constitui-se autenticamente verdadeira pela filosofia de vida que proclama. O valor do uso que damos ao nosso próprio tempo.
Por exemplo aquele pequeno gesto que, depois de percorrer a exposição de On Kawara, no faz pensar no conhecido vaticínio de que aquilo que fazes, por mais ínfimo que seja, projecta-se no infinito e na eternidade.

A propósito, Quando [é que] foi [mesmo] a última vez que você enviou um cartão postal?


MSMB, Abril 2015

Tuesday, March 10, 2015

Do Post ao Postal, já disponível!

O livro Do Post ao Postal, organizado por Moisés de Lemos Martins e Maria da Luz Correia, já está disponível, com chancela da Humus. A edição é composta por sete ensaios dos membros da equipa do projeto de investigação O Postal Ilustrado: para uma sócio-semiótica da imagem e do imaginário, todos eles redigidos a partir das notas publicadas neste blogue, mas versando temas diferentes: Moisés de Lemos Martins narra o percurso da equipa e descreve o domínio científico dos postcard studies, Maria da Luz Correia reflete sobre a pertença fotográfica do postal ilustrado e a sua vocação lúdica, Helena Pires discorre sobre o postal enquanto forma de representação da paisagem, Miguel Bandeira problematiza a dimensão pública e privada deste meio de comunicação, Madalena Oliveira  revê o papel deste objeto de culto das indústrias de sedução e, finalmente, Albertino Gonçalves discorre sobre as diversas materialidades e excêntricas texturas de que se tem revestido o suporte. O manual impresso de uma centena de páginas é ainda acompanhado por um CD com a versão digital do livro e uma seleção dos posts publicados, entre 2008 e 2013, pelos inúmeros colaboradores do blogue Postais Ilustrados: além dos posts dos autores do livro Moisés de Lemos Martins, Maria da Luz Correia, Madalena Oliveira, Albertino Gonçalves, e Miguel Bandeira, há ainda notas publicadas por Aline Soares Lima, Catarina Miranda, Marlene Pereira e Nuno Borges Araújo. 

Tuesday, November 18, 2014

O mar está bravo em Brighton

Uma série de postais de Brighton com vistas fotográficas coloridas caraterísticas do início do séc. XX e com um lettering irónico mais consentâneo com o séc. XXI foi publicada há uns dias, sob o título Pick me up Postcards, em diversas páginas de design gráfico e ilustração. O seu ilustrador é o inglês Steven Wilson, que através destes remendos gráficos, nos convida a viajar no espaço e no tempo, a bordo dos seus postais ilustrados. Diga-se que a viagem no tempo não se confina ao tempo que passa, mas atinge também o tempo que faz, o clima, que não é propriamente ameno em Brighton, como se sugere na reprodução do céu cinzento e do mar revolto. Se a iconografia do postal português descreve frequentemente o nosso país como um "jardim à beira-mar plantado", na insular Inglaterra, o mar bravo tornou-se uma representação visual canonicamente associada ao postal ilustrado... A artista plástica Susan Hiller já tinha nos anos 70 recriado as ondas revoltas repetitivamente impressas nos cartões epistolares, ilustrados por fotógrafos anónimos, na instalação Dedicated to the Unkown Artists.

 Pick me up Postcards, Steven Wilson, 2014
Dedicated to the Unknown Artists, Susan Hiller, c.a. 1970

Tuesday, November 11, 2014

Braga na Grande Guerra

Cartaz da Exposição Braga na Grande Guerra: uma memória do Arquivo Aliança (1914-1918)


Até sábado, 22 de novembro de 2014, no átrio da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, uma exposição que revela alguns episódios registados pela Fotografia Aliança que tiveram lugar na cidade de Braga, no período da Grande Guerra.


A exposição dá a conhecer imagens inéditas do período, acompanhadas do registo gráfico realizado, à época, pela imprensa local. 
Compõe esta "memória", realizada a partir de espécimes fotográficos de antigo estúdio fotográfico de Braga em depósito no Museu da Imagem (Câmara Municipal de Braga), para além dos "episódios históricos", uma galeria de retratos de soldados.

Uma das ideias por trás desta mostra é a partilha de memórias associadas ao período - por isso se solicita aos visitantes da exposição que tragam até à Biblioteca cartas, fotografias ou postais com referência à participação de Portugal na primeira Guerra Mundial.

Saturday, September 20, 2014

Retratos da Brasilidade

Enviado gratuitamente da Câmara dos Deputados de Brasília no dia 29 de agosto. Chegou ontem, dia 19 de setembro, a Portugal. A iniciativa é um convite aos visitantes da Câmara dos Deputados e do Senado para 'postagem gratuita' para qualquer destino do mundo. Uma forma de dizer 'Eu estive lá'...

Sent for free from the Brazilian Parliament on August, 29. It arrived to Portugal yesterday, September, 19. An invitation for the visitors to the Parliament to 'free post' to no matter what address in the world. A way of saying 'I was there'...

Wednesday, July 23, 2014

Na volta do Correio

É pelo menos desde os anos 80 com Malek Alloula e o seu Le Harem Colonial, onde o autor analisa as representações da mulher argelina nos postais ilustrados, que o estudo deste meio de comunicação tem estado ligado às figurações colonialistas do império. Este grupo de investigação tem ensaiado caminhos na revisão das relações entre o postal ilustrado e a lusofonia salazarista. Juntando as visões públicas às memórias privadas na era do buzz, dos posts e dos feeds, o postal ilustrado tem-se associado nos últimos anos à imprensa tradicional como objeto no qual subsiste o apelo da materialidade. E na contemporaneidade, a nostalgia das coisas não resiste a juntar-se ao saudosimo das terras.  Desde abril que na compra do diário português Correio da Manhã, se podem recolher cópias de velhos bilhetes postais sob o mote 'Memórias de Portugal e Ex-colónias'. Mais informações: Postais ilustrados do Portugal do século XX no Correio da Manhã, Meios e Publicidade

Referências:
Alloula, M. (2001). Le Harem Colonial: images d'un sous-erotisme. Paris: Séguier.