Sunday, June 29, 2008

Da modernidade à pós-modernidade


É liminar a conclusão de Marcelo Rebelo de Sousa no semanário Sol, de 28 de Junho, sobre o bilhete postal. Passou a «pré-histórico», diz. A acreditarmos na sua própria constatação, a juventude desconhece-o.


Todavia, no Mona Lisait, a livraria da rua St Martin, a dois passos do Centre Beaubourg, em Paris, vendem-se postais para resistir à Internet. Aliás, no verso do postal em destaque, acentua-se essa mesma ideia: «Resistir, é por vezes escrever».

Resistir a quê, podemos perguntar? Sem dúvida à mediação dita «imediata», como já em 1980, se referia Jacques Derrida à comunicação por telefone, mas que é sem dúvida característica da comunicação electrónica.
Não é certo, no entanto, que os postais ilustrados indiquem o fim de uma época. Meio de comunicação contemporâneo da máquina fotográfica, o postal indica um modo de atravessar a modernidade, e um modo também de compreender as formas de comunicação, que podemos caracterizar como pós-modernas.
Esteve ligado às formas mais íntimas da comunicação interpessoal, tendo por objectivo partilhar com familiares e amigos informações que não eram de natureza pública. Acompanhou a transformação da sociedade rural em sociedade urbana, como instrumento de promoção turística e de publicidade. Desempenhou um papel importante na construção do imaginário popular, através de imagens etnográficas, geográficas, históricas e patrimoniais, e também de imagens humorísticas, satíricas e publicitárias.
Mas, da mesma forma, ao metamorfosear-se em e-card, home-page, post de blogue, SMS, o postal ilustrado valoriza a interactividade, o apego e a ligação a um outro, o carácter fragmentário e múltiplo da existência, a instantaneidade, a emoção, a «efervescência do instante», a hibridação do homem e da máquina, enfim, o «ritmo da vida», para convocar uma expressão do sociólogo Michel Maffesoli.

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