" (…) Com a arte da gravação nasce o mundo fantástico da ilustração, uma linguagem que se adaptou perfeitamente à época uma vez que o índice de analfabetismo era altíssimo. Foi a evolução da ilustração e da arte da gravação que fez surgir o bilhete postal, proporcionando um novo tipo de comunicação criativa, assumindo desde logo uma ruptura com todas as tradições artísticas, permitindo que a arte passasse a ser contemplada fora dos seus circuitos normais. É óbvio que os artistas não poderiam ter ignorado o pequeno cartão que permitia uma livre circulação da sua arte, da mesma forma que o postal não poderia ter ignorado a beleza e o encanto que o artista lhe poderia proporcionar – desta forma a arte e o postal vão-se influenciar mutuamente.
(...)
É certo, e todos sabiam, que o postal reproduzia uma imagem, não sendo portanto o seu original, acabando por perder parte do seu interesse e da sua magia. Porém, foi precisamente o postal ilustrado que acabou por levar a beleza da arte a quem não tinha acesso a ela, surgindo desta forma uma sensibilidade que outrora era praticamente inexistente, dando igualmente aos artistas a oportunidade de continuar convictos que a magia da sua arte iria perpetuar. As imagens viajantes do bilhete-postal ilustrado são o corolário de uma série de factores artísticos, factores que terão certamente contribuído para o aumento de uma consciência estética, que outrora era praticamente inexistente (...). Da mesma forma, a arte terá sem dúvida influenciado o rumo do bilhete-postal, ao ponto de ele próprio ser encarado como um objecto de arte por direito próprio. "
Oliveira Matos, P. (2004), 'O Bilhete Postal e a Arte', in A Arte do OFício nº6
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