Monday, March 2, 2009

O postal recto-verso: uma experiência viva

Postal adquirido na semana passada na livraria do Palais de Tokyo, em Paris (França) com reprodução da obra do artista norte-americano John Baldessari A two dimensional surface without any articulations is a dead experience, 1967 publicado por editora alemã e incluído como o nº 2 na série de 50 postais Territorium Artis; 

Esta obra do artista conceptual John Baldessari (curiosamente escrita  a letras de imprensa em vez de manuscrita, por opção deliberada do norte-americano) cabe 'milimetricamente' no formato em que é reproduzida. Espécie de moldura dupla (incapaz de ser pendurada na parede sob pena de se perder uma das faces), o postal é exemplar de uma superfície bidimensional seja porque quer a face quer o verso são normalmente e em princípio superfícies 2D seja precisamente porque, dando outro sentido à ideia de duas dimensões, o postal é um cartão de duas faces, de duas dimensões: uma pública e massiva, outra privada e manuscrita. Mas, ainda mais do que as concepções de um cartão 2D ou de um cartão de dupla dimensão, a ideia-chave nesta reprodução postal da obra de Baldessari é a articulação como fonte da experiência viva que é o postal. Articulação pela interligação entre frente e verso, articulação entre o público e o privado, entre o carácter reproduzido e o carácter original, articulação entre a imagem-texto de Baldessari e o verso em branco com vista a ser manuscrito, articulação entre remetente e destinatário. De facto, pegando nas expressões da filósofa Antonia Birnbaum, se o postal é uma  imagem do mundo (à semelhança por exemplo de um cartaz), ele é, acima de tudo, pela articulação que o seu verso e o seu carácter de documento do correio permitem, uma imagem do mundo no mundo.   

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