Sunday, May 23, 2010

O riso e o risível: forma e subjectividade


No mundo dos bilhetes postais, deparamo-nos, amiúde, com exemplares presumivelmente cómicos. Apresentam, quase todos, cenas e personagens que se ajustam ao protótipo do risível avançado por Henri Bergson (1983: 9 e 11): “desajeitados” e “grandes desviados”. Confesso que raramente me fazem rir. Já não digo às gargalhadas, contentar-me-ia com algumas cócegas no espírito.



Este postal ilustrado é capa de um livro clássico (Kyrou, 1966). E, para além de fazer cócegas no espírito, fornece um bom pretexto para dois apontamentos atravessados:

1 – O risível pode provir mais da forma do que do conteúdo. Parece-me ser o caso do “humor mais criativo”;

2 – O risível pode ocorrer, não porque observamos, desprendidamente, um “desajeitado” (Charlot) ou um “grande desviado” (Don Quixote), mas, outrossim, porque aquilo que nos é dado observar nos deixa , a nós, sem jeito, nos desvia para outros jogos (a que a razão é, porventura, alérgica).

Referências:

BERGSON, Henri (1983), O Riso. Ensaio sobre a significação do cómico, Rio de Janeiro, Zahar Eds.

KYROU, Ado (1966), L’Age d’Or de la Carte Postale, Paris, Balland.


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