Wednesday, October 31, 2012

Postais possíveis


No campo teórico, interrogamo-nos acerca do poder que tem o postal ilustrado de patrimonializar uma cidade ou um país, na medida em que este uniformiza o imaginário sobre determinada paisagem urbana, ao construir e fixar a imagem identitária de um lugar, ancorada no « conceito canónico de patrimônio, de cariz monumentalista »[1].

Este questionamento também está presente no campo artístico, como podemos observar nas experimentações de Andreas Müller-Pohle. No projecto Dacapo I e II, desenvolvido entre os anos de 1988 e 1991, Müller-Pohle risca e faz sobreposições nos negativos fotográficos de reproduções de postais ilustrados. O fotógrafo interfere no cânone pictórico do país ou cidade congelado no cliché, seja extirpando-o totalmente da representação ou deslocando-o de seu lugar de referência. Se por um lado, tal interferência opera no sentido de "esvaziar" a imagem  postalizada de seu conceito canónico, por outro, abre uma nova janela da qual é possível vislumbrar a paisagem desde outra perspectiva. O observador pode re-elaborar a representação a partir dos vestígios deixados no negativo, pluralizando os imaginários possíveis sobre aquele lugar.

Traditions d'Alsace, 1989 [2] 
Cristo Redentor, 1988 [2]



[1] BANDEIRA, Miguel (2011) A paisagem urbana através dos postais ilustrados: os “cheios” e os “vazios” 
[2] Andreas Müller-Pohle: Interfaces. Foto+Video 1977–1999. Göttingen: European Photography, 1999. ISBN 3-923283-51-2


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