O retrato fotográfico tem tido, desde que apareceu no final
do séc. XIX até aos nossos dias, acompanhados pelas redes sociais e pela partilha instantânea de
imagens, um lugar privilegiado nas práticas artísticas, nas rotinas comerciais
e nas recreações amadoras. Propício ao exercício da mais tradicional expressão
visual e dos mais canónicos padrões estéticos, o retrato fotográfico tem sido
também favorável à experimentação. Na
história do postal ilustrado, cujo papel é fundamental na difusão da fotografia, os retratos a preto e branco e a cores de atores e atrizes tornam-se cedo populares. Se no início do séc. XX são ainda os profissionais do teatro que fazem pose nos postais ilustrados (como lemos aqui), a partir dos
anos 50, são as divas e os ídolos de Hollywood que passam a ser impressos em
grande escala, e com o devido grão fotográfico, nos cartões de pequenas
dimensões.
O retrato de Marilyn Monroe, tirado em 1957 por Richard
Avedon, atualmente em exposição na National Portrait Gallery em Canberra na
Austrália e editado em formato de postal no âmbito da mesma, não é uma imagem comum
e muito menos um clássico postal ilustrado. Nele, a atriz que deu rosto às
intrigas de cineastas como Fritz Lang, Howard Hawks, Billy Wilder e John
Houston, não tem nem o sorriso rasgado nem a pose exuberante a que habituou as
objetivas da sua época. De ombros encolhidos e boca entreaberta, Marilyn, um dos
mais célebres ícones da cultura popular norte-americana, revela-se, no retrato
de Richard Avedon – como, de resto, na sua conhecida biografia – uma estrela sombria.
Este lado escuro da pin-up, que é ofuscado pelos filmes com happyending e pelos postais com pose, não só brilha nesta
mostra de fotografia e nos postais que a publicitam, como parece fixar nela o
reflexo de um imaginário contemporâneo em torno de um certo mal de vivre.
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