No campo
teórico, interrogamo-nos acerca do poder que tem o postal ilustrado de
patrimonializar uma cidade ou um país, na medida em que este uniformiza o
imaginário sobre determinada paisagem urbana, ao construir e fixar a imagem identitária de um lugar, ancorada no
« conceito canónico de patrimônio, de cariz monumentalista »[1].
Este questionamento também está presente no campo artístico, como podemos observar
nas experimentações de Andreas Müller-Pohle. No projecto Dacapo I e
II, desenvolvido entre os anos de 1988 e 1991, Müller-Pohle risca e faz
sobreposições nos negativos fotográficos de reproduções de postais ilustrados. O
fotógrafo interfere no cânone pictórico do país ou cidade congelado no cliché, seja
extirpando-o totalmente da representação ou deslocando-o de seu lugar de
referência. Se por um lado, tal interferência opera no sentido de "esvaziar" a imagem postalizada de seu conceito canónico, por outro, abre uma nova janela da
qual é possível vislumbrar a paisagem desde outra perspectiva. O observador pode
re-elaborar a representação a partir dos vestígios deixados no negativo,
pluralizando os imaginários possíveis sobre aquele lugar.
![]() |
Traditions d'Alsace, 1989 [2] |
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Cristo Redentor, 1988 [2] |
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