Monday, August 31, 2009

Mudam-se os tempos, mudam-se os modos...


Se é verdade que o aparecimento e popularização dos meios audiovisuais resultou num certo esquecimento do postal ilustrado, que foi perdendo validade comunicativa face à sofisticação tecnológica dos novos meios de comunicação, é também verdade que o ressurgimento dos postais muito deve à atenção que lhes cederam estes concorrentes. Aliás, a história recente do postal não poderá escrever-se sem uma referência às Novas Tecnologias da Informação e Comunicação.

Não nos referimos apenas aos e-cards ou postais electrónicos, se bem que esta variante não possa ser desconsiderada, nem do fenómeno de reemergência do postal como veículo de comunicação interpessoal, nem do fenómeno de "requisição da experiência pela tecnologia" que caracteriza a cultura contemporânea, nos termos de José Gil (2002:21**). E nem nos referimos apenas aos mercados virtuais, como o e-bay, que facilitam a venda e a permuta de postais à escala global, segundo critérios muito precisos (época, temática, técnica de ilustração, inscrição, etc…). Referimo-nos também, e em particular, a postais de cartão, como os seus originais, remetidos às caixas do correio domiciliares ao abrigo dos serviços postais, tal como os seus originais. São processos que começam em ambiente web mas que trespassam as barreiras do virtual.

«Take a photo. Send a Postcard». É o desafio que nos propõe a Apple, que através da aplicação GoPostal do iPhone, que permite o envio de postais personalizados. Tudo o que é pedido ao utente do serviço é a captura ou escolha de uma foto, a partir do iPhone, claro está, a escrita de uma mensagem de texto, e a indicação do endereço do destinatário. Em poucos dias, a missiva virtualmente concebida é entregue em formato físico no endereço indicado.

MeuPostal é o serviço correspondente dos CTT Correios. O conceito de base é o mesmo: o cliente personaliza online o postal e os CTT encarregam-se de lhe dar existência física. O produto final é, garantidamente, qualquer coisa como um gesto de amor, uma surpresa, um presente.
Curioso e entusiasmante, por certo. Mas é apenas o resgatar de uma ideia ancestral. Vejamos se reconhecemos nesta história antiga a genealogia deste conto dos tempos modernos.

**Gil, José (2002), 'Ligações de Inconscientes', in Miranda, José Bragança & Cruz, Maria Teresa (org.), Crítica das Ligações na Era da Técnica, Lisboa: Tropismos.

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