A coleccção de postais de Paul Eluard, que é parte do espólio do Musée de La Poste, estará em exibição no Centre Pompidou, em Paris, até 11 de Janeiro de 2009, na exposição de fotografia surrealista La Subversion des Images. Os álbums de postais de Paul Eluard que contam com cerca de 2400 postais, e que foram sendo compostos pelo poeta entre 1929 e 1930, são uma montagem de postais “fantaisie” onde abundam os ícones e símbolos populares que compunham esses “trésors de rien du tout” - é assim que Paul Eluard no nº 3-4 da revista Minotaure, em 1933, define os postais. A colecção, que está disposta em conjuntos de seis postais por página, associa postais a cores, a preto e branco, ilustrados e fotográficos, e é uma série de imagens de mulheres - estas são, pode-se dizer, os motivos-base ou o tom de fundo de todos os álbuns – mas também de flores, casais apaixonados, obras de arte, pássaros e outros animais, paisagens, monstros, carros... A organização não tem nenhum critério claro: parece antes obedecer a uma vontade de associação arbitrária de ideias, de relações “de parecença e diferença, de analogia e estranheza, de afinidades e tensões” (José Pierre, Paul Éluard: La carte postale comme matériau du poème visible). Nas palavras de M.B., num artigo publicado no nº14 do Bulletin du Cercle Français des collectionneurs de cartes postales em 1969, com a sua disposição destas miniaturas de imagem, o poeta surrealista transforma os estereotipados e tão vulgares postais numa "alucinação liliputiana do mundo". Da colecção, possível de visionar na exposição em formato digital, ressaltam sobretudo as cores, que variam entre o cinzento turvo das velhas fotografias a preto e branco e os tons excessivos e irreais de grande parte das imagens, algumas das quais eram pintadas à mão após a impressão. Os postais de Eluard, que dizem bastante sobre o poeta mas também sobre a criação visual nos postais da primeira metade do século XX, reconstituem a partir das imagens de "fantasia" um labiríntico mosaico de aparições, imagens, figuras irreais, como se os álbums fizessem das gastas e populares imagens as passagens de um sonho. Os postais, que segundo Salvador Dali eram para os surrealistas "uma base experimental para o estudo do pensamento inconsciente moderno e popular", são fragmentos visuais da nossa memória e foram por isso a vários títulos apropriados e subvertidos por um movimento artístico que contribuiu também ele de modo marcante, para desenhar o imaginário contemporâneo.
Paul Eluard's postcards collection, which is part of the Musée de La Poste permanent collection, is presented in the exhibition of surrealist photography La subversion des Images, in the Centre Pompidou, in Paris, until the 11th January 2009. The postcards albums of Paul Eluard that have 2400 postcards and that had been being composed by the poet between 1929 and 1930 are a montage of “fantaisie” postcards, where we see a lot of those popular icons and symbols that composed the “trésors de rien du tout” –this is the way in which Paul Eluard defines postcards in the no 3-4 of the Minotaure review in 1933. The collection, which is disposed in groups of 6 postcards per page, mixes colored postcards with black and white postcards, illustrated with photographic postcards; it is a series of images of women – women are, we could say, the basic motif and the background color of all the albums – but also of flowers, couples in love, artworks, birds and other animals, landscapes, monsters, cars… The organization doesn’t have a clear criterion: it seems to obey a desire for arbitrary association, for relations of “resemblance and dissemblance, of analogy and strangeness, of affinities and tensions” (José Pierre, Paul Éluard: La carte postale comme matériau du poème visible). In the words of M.B., in an article published in the no 14 of the Bulletin du Cercle Français des collectionneurs de cartes postales in 1969, with his disposition of this miniatures of image, the surrealist poet transforms the stereotyped and so vulgar postcards into a “Lilliputian hallucination of the world”. Regarding the collection, whose digital version can be consulted in the exhibition, the colors are particularly suggestive: they range from a muddy grey of the old black and white photos to the excessive and unreal tonalities of great part of the images – a part of them was hand colored after the printing. Eluard’s postcards, which ‘talk’ about the poet but also about the visual creation in the postcards of the first half of the XXth century, reconstitute a labyrinthine mosaic, of apparitions, images, unreal figures, as if the albums turned the popular and old images into the moments of a dream. The postcards, which constituted for surrealists according to Salvador Dali “an experimental basis for the study of the modern and popular unconscious thinking”, are visual fragments of our memory, and they were because of that appropriated and subverted in many ways by an artistic movement that has also contributed in a decisive way for the contemporaneous ‘imaginarium’.
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