Saturday, March 21, 2009

Do Brasil para as Américas: [mais um]a história em postais

Chega-nos do lado de lá do Atlântico mais uma evidência do valor documental do postal ilustrado. 'Do Brasil Para as Américas', da autoria de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, é uma espécie de catálogo histórico: são quase 700 postais, distribuídos por 240 páginas, a reconstituir as paisagens e a narrar a vida dos povos que viveram nas Américas entre 1880 e 1940.

Mas deste livro não se pode dizer ser uma obra sem precedentes. Ao todo, são sete os projectos assinados por esta dupla, um coleccionador de postais brasileiro e um jornalista e investigador chileno. 'Lembranças de São Paulo – O interior Paulista nos cartões-postais e álbuns de lembranças' foi o primeiro título desta série com o carimbo da Solaris Edições Culturais. Algumas partes deste trabalho inaugural podem ser visualizadas aqui.

Thursday, March 19, 2009

Comic postcards por George Orwell

Face de um postal ilustrado por Donald McGill

What they are doing is to give expression to the Sancho Panza view of life, conclui George Orwell no texto que em 1941 dedica aos postais humorísticos de Donald McGill (The Art of Donald McGill). Para o autor, os postais do inglês McGill (como de resto, os postais humorísticos em geral) dariam expressão a uma faceta dionisíaca do humano que precisa ocasionalmente de ser ouvida: é o lado de quem quer "camas macias, nenhum trabalho, canecas de cerveja e mulheres com figuras voluptuosas". 
São postais sem qualquer pretensão artística, são ostensivamente banais e vulgares, as piadas que ilustram soam-nos sempre a déjà-vu, são-nos familiares e as suas imagens são "algo tão tradicional como a tragédia grega, uma espécie de sub-mundo de 'traseiros' exagerados e sogras escanzeladas que são uma parte da consciência ocidental europeia". Com desenhos grotescos, figuras feias e uma atmosfera mental de baixo nível, os postais cómicos diferem desse belo 'standard' mais quixotesco e apolíneo que o postal às vezes insiste em enquadrar, com os seus pôr-do-sol,  as suas figuras femininas ideais, as suas reproduções de obras de arte, ou as suas avenidas bem iluminadas e vazias. 

Thursday, March 12, 2009

Bilhetes postais com... Chocolate!

Decorre por estes dias, em Óbidos, o 'delicioso' Festival Internacional de Chocolate, que este ano conta com um produto inovador e no mínimo original: bilhetes postais com chocolate! A ideia parece vir de uma mini-empresa escolar, chamada Sweetcard, cujo objectivo será «revitalizar o tradicional Bilhete postal, com a apresentação de um valor acrescentado para o consumidor, o chocolate».

Sunday, March 8, 2009

Para uma outra dimensão do olhar...

Por que é que arquivamos postais? Que valor documental têm, na verdade, os postais ilustrados?
Por que é que coleccionamos e gostamos de postais ilustrados?
Que afinidades definem a relação entre o postal ilustrado e a fotografia?

Estas foram as questões que organizaram a tertúlia que ontem reuniu meia centena de pessoas no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga. Foram sobretudo dois os pretextos da iniciativa promovida pela equipa do projecto POSTAIS ILUSTRADOS (CECS), em articulação com aquele Museu e com a Biblioteca Pública de Braga: uma exposição sobre as imagens que mais de um século de postais fixaram do olhar sobre a cidade minhota e a tentativa especulativa de compreender o espírito coleccionador.
«Nós [os coleccionadores] somos umas mentes um bocado doentias.»
«O motor que nos faz coleccionar é o mesmo que nos faz cortar com a colecção. Aquilo que nos faz andar, gastar energia e dinheiro é também aquilo que mata a colecção.»
Olga Carneiro, coleccionadora

«O comportamento do coleccionador tem uma relação com um quadro de neurose obsessivo-compulsiva.»
«Se não formos de outra coisa, somos pelo menos todos coleccionadores de memórias.»
Pedro Albuquerque, psicólogo

«Imagem e carta são dois formatos distintos que o postal ilustrado conjugou.»
Nuno Araújo, fotógrafo

«Os postais ilustrados conferem uma outra dimensão ao olhar e são também um veículo de actualidade.»
José Manuel Ferreira, representante da Pró-Associação de
Cartofilia

Wednesday, March 4, 2009

Um dia do postal num dia da comunidade: é no próximo sábado, em Braga


Pode-se dizer que o Centro de Estudos de Comunicação e Sociedade (CECS) da Universidade do Minho é o remetente (pela mão do nosso projecto Os postais ilustrados: para uma sócio-semiótica da imagem e do imaginário). E que os destinatários são todos aqueles que no próximo dia 7 de Março pretenderem assistir  à exposição e tertúlia em torno dos postais e do lugar deles na vida da comunidade, no Museu D. Diogo de Sousa, em Braga. Uma exposição de postais de Braga, uma instalação cartográfica também alusiva  à cidade minhota, a exibição de reportagens realizadas nos quiosques de postais bracarenses, uma banca de venda de postais antigos, uma mesa-redonda à qual se sentarão diferentes vozes com particulares ligações ao cartão ilustrado - estes são, grosso modo, os diferentes momentos de uma jornada que promete revelar mais do que duas faces ao postal.

O projecto colectivo dedicado aos postais, coordenado por Moisés de Lemos Martins e financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia pretende, com este evento, estabelecer uma ponte entre o seu percurso de investigação iniciado em 2007 e o público em geral. Através de uma exposição, de vídeos, de uma banca e uma tertúlia, o nosso projecto que engloba disciplinas que vão da Antropologia às Ciências da Comunicação, quer ao longo do próximo sábado dar lugar a um debate atento ao valor documental e histórico do postal (cuja vida já remonta ao séc. XIX), à actualidade deste meio de comunicação, ao postal como veículo do imaginário de uma cidade, à cartofilia, ao postal enquanto objecto de colecção, ou ainda finalmente, ao postal ao serviço da promoção turística. 

Programa
10h00 | Inauguração de uma Exposição de postais de Braga, organizada pela Biblioteca Pública de Braga (sob a responsabilidade do Director, Henrique Barreto Nunes);
10h30 | Cartografia postal da cidade de Braga (instalação de Miguel Bandeira e Helena Pires);
11h00 | Sessão audiovisual, com apresentação de reportagens feitas a vendedores de postais de alguns quiosques de Braga (trabalho realizado por alunos do Curso de Licenciatura em Ciências da Comunicação da Universidade do Minho);
15h00 | Mesa-Redonda (Tertúlia), com as seguintes participações:
Moisés de Lemos Martins, coordenador do Projecto "Os postais ilustrados: para uma sócio-semiótica da imagem e do imaginário";
Olga Carneiro, coleccionadora de postais ilustrados;
Henrique Barreto Nunes, director da Biblioteca Pública de Braga;
Pedro Barbas Albuquerque, psicólogo;
Nuno Araújo, fotógrafo;
José Manuel Ferreira, representante da Pró-Associação Portuguesa de Cartofilia;

Mais informações ainda aqui


Monday, March 2, 2009

O postal recto-verso: uma experiência viva

Postal adquirido na semana passada na livraria do Palais de Tokyo, em Paris (França) com reprodução da obra do artista norte-americano John Baldessari A two dimensional surface without any articulations is a dead experience, 1967 publicado por editora alemã e incluído como o nº 2 na série de 50 postais Territorium Artis; 

Esta obra do artista conceptual John Baldessari (curiosamente escrita  a letras de imprensa em vez de manuscrita, por opção deliberada do norte-americano) cabe 'milimetricamente' no formato em que é reproduzida. Espécie de moldura dupla (incapaz de ser pendurada na parede sob pena de se perder uma das faces), o postal é exemplar de uma superfície bidimensional seja porque quer a face quer o verso são normalmente e em princípio superfícies 2D seja precisamente porque, dando outro sentido à ideia de duas dimensões, o postal é um cartão de duas faces, de duas dimensões: uma pública e massiva, outra privada e manuscrita. Mas, ainda mais do que as concepções de um cartão 2D ou de um cartão de dupla dimensão, a ideia-chave nesta reprodução postal da obra de Baldessari é a articulação como fonte da experiência viva que é o postal. Articulação pela interligação entre frente e verso, articulação entre o público e o privado, entre o carácter reproduzido e o carácter original, articulação entre a imagem-texto de Baldessari e o verso em branco com vista a ser manuscrito, articulação entre remetente e destinatário. De facto, pegando nas expressões da filósofa Antonia Birnbaum, se o postal é uma  imagem do mundo (à semelhança por exemplo de um cartaz), ele é, acima de tudo, pela articulação que o seu verso e o seu carácter de documento do correio permitem, uma imagem do mundo no mundo.