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Monday, May 18, 2009

O postal à mesa de mistura

Recto do postal de arte nº 13 da série 41 as Awami criada por Max Guedj e editada pela Galerie L'Oeil du Huit em 2002 (adquirido em Paris, em Janeiro de 2009) 
Connect... Draw... Remix, Matthew Falla, 2007

São duas criações aparentemente distantes mas que dizem sobre os postais algo semelhante... Contemporâneo das pioneiras fotografias, que deram a ver a primeira imagem do encontro entre o homem e a máquina (Walter Benjamin), o postal é uma outra figura desse encontro: carta pré-feita, o postal começa com a mistura das nossas velhas palavras manuscritas a uma produção maciça e impressa. Ora, os postais de arte inventados pelo francês Max Guedj põem precisamente em cena um teatro tipográfico no recto do postal, que desenha formas e completa mensagens, a partir do cruzamento da tipografia com o manuscrito. Já o designer londrino Matthew Falla, cuja obra se centra na combinação de suportes tradicionais (posters, souvenirs, postais) com as possibilidades interactivas da tecnologia e do multimedia, complica o jogo.   Connect... Draw...Remix é uma série de cartões pintados pelos seus utilizadores e  lidos por um leitor com cabo USB; no mesmo movimento em que vão traçando riscos com um lápis no postal, os utilizadores vão misturando música (um vídeo exibindo o processo está disponível no site oficial de M. Falla). Os postais de Guedj são tradicionais e podem ser enviados com as mensagens curtas e redundantes que sempre inscrevemos no verso dos cartões; os postais de Mathew Falla, referidos como postais pelo designer, e incluídos na obra Cartes Postales de FL@33, já quase não nos parecem postais... Mas ambos, enviados ou não, nos lembram que o postal, combinando uma reprodução em massa com uma mensagem manuscrita e singular, pressupõe na sua própria natureza um princípio de apropriação, de citação, de montagem, de mistura e de hibridação.

Friday, February 13, 2009

A Tour Eiffel pelo Doisneau na era da Tour Eiffel pelo telemóvel

Distorsion optique (1965) de Robert Doisneau, imagem reproduzida na face de postais actualmente à venda nas papelarias e lojas de souvenirs da cidade de Paris; segundo Nicolas Hossard (que já apresentamos aqui ), a imagem da Tour Eiffel é a face de postal mais vendida no mundo;    

Hoje num passeio pela capital francesa já não nos impressionarão as passagens, as gares e os novos meios de transporte que tanto inspiraram Walter Benjamin, que deu a esta cidade o título de capital do séc. XIX. Em pleno séc. XXI quem se abandona à flânerie nesta cidade pode, entre muitas outras coisas, ser atropelado pelos intermináveis expositores de postais na soleira das livrarias, papelarias e lojas de souvenirs, onde logo dará pela abundância de fotografias a preto e branco assinadas por fotógrafos e artistas como Robert Doisneau, Henri Cartier Bresson, Willy Ronis, Man Ray... Quem vagueia aqui pode ainda, por outro lado, ser interrompido na sua ociosa caminhada por um qualquer transeunte que estaca na calçada de câmara fotográfica ou telemóvel em punho a imortalizar com uns quatro ou cinco flashes o edifício antigo com ar imponente - é esta a Paris vendida aos turistas pela nova tecnologia digital. Já a Paris vendida aos turistas pelo postal é cada vez menos a cidade actual, e à imagem que mostrava ao destinatário que o remetente estivera ali, mesmo ali, naquele trecho de cidade que tinha grosso modo o aspecto que se lhe descobria na fotografia, substitui-se hoje, mais ainda do que a ficção de tipo kitsch, a reprodução da ficção assinada pela arte que de algum modo inventou, inventa e reinventa continuamente a cidade. 

Nicolas Hossard, sociólogo francês autor de Recto Verso, Les faces cachées de la carte postale, actualmente investigador no Laboratório de Culturas e Sociedades na Europa da Universidade de Strasbourg, em entrevista connosco no passado dia 12, afirma que os fenómenos estão intrinsecamente ligados - é a generalização da imagem digital que precipita essa progressiva amalgama da publicidade turística com a arte no postal: En effet, jusqu’à il y a quelques années la carte postale était surtout conforme au lieu parce que les gens n’avaient pas tous un appareil photo ; aujourd’hui il est impensable qu’un touriste n’a pas un appareil de photo numérique ou un portable qui prend des photos. Et du coup on personnifie le rapport à l’espace en prenant soi-même des photos de l’espace. Et ainsi il y a tout un champ qui est intéressant de développer sur la concurrence de cette numérisation de l’image et de la production personnelle de l’image qui fait se redéfinir l’imagerie de la carte postale. 

Wednesday, February 4, 2009

Do e-mail, e-card, sms, mms ao postal

Figura 1. Postal adquirido em Paris (França), em Janeiro de 2009 - na face, as várias fórmulas significam “À plus!”, isto é, “Até já!”

Figura 2. Postal adquirido em Paris (França) em Janeiro de 2009 - na face, a fórmula inscrita pode ser assim traduzida: "Na época da Internet, o postal faz Resistência"; no verso, lê-se uma pequena frase no canto superior esquerdo "Resister c'est parfois écrire", isto é, "Resitir é por vezes escrever". Este postal já foi reproduzido e comentado aqui no nosso blogue.

 

Meio de comunicação interpessoal, o postal foi em certo sentido um percursor das muitas ‘tecnologias comunicantes’ que hoje temos ao nosso dispor.  Por outro lado, estas tecnologias são vistas frequentemente como uma ameaça à continuidade do postal. Mas, certo é que o postal continua a ser vendido e que já não ignora nem os telemóveis nem a Internet nas suas edições. 

O postal da figura 1 é assim uma das versões de uma série de postais que imita o ecrã de um telemóvel bem como as ininteligíveis abreviaturas made in sms. O postal da figura 2, apresentando na face uma contraposição entre o postal e a Internet, refere-se no verso ao acto de escrever próprio de uma tradição epistolar que não conta com os ecrãs dos nossos computadores. O postal, que curiosamente pelo seu tamanho pequeno foi um dos primeiros meios de comunicação a precipitar abreviaturas e códigos de simplificação, é ainda hoje um importante sobrevivente da mensagem manuscrita bem como desse trajecto geográfico ‘real’ que é o envio por correio.